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Nossa paulicéia: retratos, retalhos...
27/11/2006
Capela dos Aflitos
A sufocada capela no Beco dos Aflitos, na Liberdade, por Adriano Vieland

Solitária, esquecida, escondida; uma construção ímpar, exemplo único na megalópole, templo de inimaginável valor para nossa violentada memória urbana, é um delicado suspiro em busca de resistência. Situada num dos poucos becos aqui ainda existentes, se faz presente desde 1774 a Capela de Nossa Senhora dos Aflitos, ou simplesmente, a tímida "Capela dos Aflitos".

Sua origem está ligada ao Cemitério dos Aflitos, o primeiro cemitério público da cidade, e que era voltado ao sepultamento dos menos favorecidos, como pobres, indigentes, escravos e muitos dos que foram, entre os séculos XVIII e XIX, sentenciados à forca; o local das execuções ficava bem próximo, a poucos metros, no Largo da Forca, atual Praça da Liberdade.

Dentre os sentenciados, o mais famoso foi Francisco José das Chagas - "Chaguinhas", como era conhecido; sua morte, em 1821, causou comoção junto a opinião pública da época, pois durante sua execução, foi somente na terceira tentativa que a corda resistiu, não se partindo.

A fé daqueles que acompanhavam as tentativas foi posta a prova, e muitos protestaram a favor do condenado, gritando que as cordas arrebentadas nas duas primeiras tentativas eram mensagens de Deus contra a execução imposta pelos homens. Gritavam por "liberdade". O fato criou um sentimento de misticismo envolvendo o local da forca, e de devoção em torno de Chaguinhas.

Com a inauguração do Cemitério da Consolação, em 1858, o Cemitério dos Aflitos foi desativado, e mesmo sob protestos, seu terreno foi loteado, sendo conservado somente o local onde se tem o beco. Tal loteamente permitiu a construção de diversos prédios, que vieram a sufocar a capela, que a partir de então sofreu, não apenas com o esquecimento, mas com diversas má sucedidas tentativas de reforma, causando em parte sua descaracterização.

Ainda que com um aspecto beirando a degradação, num local pouco iluminado, claustrofóbico, abriga tesouros, como um raro sacrário do início do século XVIII, e uma imagem de Santo Antônio de Categeró.

Seria uma atitude digna elevar a importância da capela, restaurando-a, e talvez construindo algum tipo de jardim ou boulevard por toda a extensão do beco, com a finalidade de se evitar a entrada de veículos - é horrível constatar que a rua serve de estacionamento durante os finais de semana, e tem sua via convertida em muitas oportunidades à banheiro público.


 

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Publicado por Adriano Vieland às 10:44 | permalink | compartilhar
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